O VELHO QUE LIA ROMANCES DE AMOR
(…)
O dentista e o velho contemplavam o rio que passava sentados em garrafas de gás. De vez em quando passavam um ao outro a garrafa de Frontera e fumavam charutos de folha dura, dos que a humidade não apaga.
— Caramba, Antonio José Bolívar, deixaste sua excelência sem pio. Não te conhecia como detective. Humilhaste-o diante de todos, e bem o merece. Espero que ainda um dia os jíbaros lhe espetem um dardo.
— É a mulher que o vai matar. Está a acumular ódio, mas ainda não juntou o suficiente. É coisa que leva tempo.
— Olha, com toda a confusão do morto já quase me esquecia. Trouxe-te dois livros.
Os olhos do velho iluminaram-se.
— De amor?
O dentista fez que sim.
Antonio José Bolívar Proaño lia romances de amor, e em cada uma das suas viagens o dentista abastecia-o de leitura.
— São tristes? — perguntava o velho.
— De chorar rios de lágrimas — garantia o dentista.
— Com pessoas que se amam mesmo?
— Como ninguém nunca amou.
— Sofrem muito?
— Eu quase não consegui suportar — respondia o dentista.