Corria o ano de dois mil e
dezasseis, do dia 15 de março. Na ESVV estava tudo organizado para receber o
escritor Rui Sousa Basto, com a finalidade de apresentar Contos do efémero. O
escritor, ainda no espaço exterior do auditório foi gentilmente alertado para
não se assustar com a surpresa que alguns dos alunos tinham preparado, com a
mestria da coordenadora Cristina Oliveira, do grupo de teatro (VerdEmCena) e
com a astuta colaboração da professora Maria José e da supervisão da
Coordenadora da Biblioteca (agregadora de vontades), Eduarda Ribeiro.
Nada
neste encontro foi convencional. Não que o convencional não
tenha direito à sua existência, mas estes encontros tendem a toldar-se de cor
cinza pelos longos discursos dos “especialistas” e toldam-se de impaciência a
maioria dos nossos alunos. Dito isto, ainda
bem que nada foi convencional, sendo surpreendentemente envolvente,
dialogante, com momentos de criatividade única, enternecedora e envolvente. Sim. Todos nós queríamos saber sobre o
processo criador do escritor convidado. Sim.
Todos nós precisávamos de saber um pouco mais em que consistem esses ditos
micro-contos da obra “Contos do Efémero”. Sim.
Todos nós ficamos agradecidos pela forma calorosa como o escritor Rui Sousa
Basto partilhou connosco a sua imersão na escrita, já em idade tardia (49
anos); da forma como foi evoluindo na sua compreensão do mundo que o rodeia ao
ler os tantos livros, legados pelos seus antepassados; da espontaneidade como
surge o ato criador da essência de um conto; das muitas vezes que o texto é de
novo revisto, revisitado, burilado, aperfeiçoado, até “deitar fora” o
supérfluo. O escritor comunica com a plateia (11ºA, D, L e I; 12º I ), num
estilo improvisado mas primorosamente adequado, intercala silêncios, leitura,
questões, frases feitas em fina ironia,
E antes da palavra dada ao
escritor, foi dada voz ao grupo de teatro: cada personagem com as suas falas,
- a personagem fixa e rígida no 1º degrau junto à porta de
entrada, lê pausadamente e com
intervalos longos: UM… DOIS… TRÊS… QUATRO… CINCO… SEIS… SETE………
-
a personagem que entra da porta no lado oposto, lateral à mesa central e assume o seu papel
de… (meretriz?)
- a personagem que se
desloca ao longo da plateia e diz as palavras certas de um dos micro-contos…
E
pelo meio a plateia em profundo silêncio, encantados e rendidos à
surpresa.
E, como se não fosse já
bastante, um ser criador, de seu
nome Camelo, desenhava as ideias que
eram ditas…
As palavras soltaram-se da
obra, do conto e passaram a ter sentido iconográfico… tinham, parece, uma
simbologia inerente à virgula e ao travessão… mera pontuação do texto e que
pelos vistos pode assumir aproximação e/ou afastamento… união ou desunião e
outras coisas que tais….
Maravilhoso
o momento criativo. O escritor ouvia as suas palavras, o que as
palavras podem ser em desenho e devolveu
apenas a vírgula ao artista. E disse, claramente dito: ”A vírgula é sua…”.
Estávamos quase no final do
encontro, tempo para a professora Maria José referir a simbologia da pontuação
em Eça de Queirós… e em outros escritores. Dita
com a suavidade que lhe é peculiar, com a intensidade com que vivencia a
poesia, os contos e a escrita em geral… e eís que nos foi possível ouvir do
escritor Rui Sousa Basto que Sim,
que foi mesmo surpreendido e presenteado com momentos de elevada envolvência (a
elevada é expressão nossa). Bem haja ao escritor que retirou horas da sua
labuta para nos vir falar da sua obra.
P.S: não é demais vincar o
micro-conto que surge das “vergastadas nos limões”. Se ficou curioso leia os
contos.
E seja feliz!
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