Espreitar pelo buraco da fechadura
das casas dos professores, quem não pensa nisso de vez em quando?
Nós espreitámos para as estantes de
alguns professores e descobrimos os livros mais folheados, mais manuseados,
mais amados e até.. mais detestados.
Abel Martins, professor de Economia,
apaixonou-se por Os Maias… ou pela
professora de Português? Chiuuu. O livro de cabeceira da – justamente – professora
de Português Ana Cristina Oliveira, que também há de ter dado a volta à cabeça
a muitos alunos, é As Bacantes.
Embora talvez nem todos dormissem com O
Exorcista na mesa de cabeceira, como Ana Paula Guerra, professora de
Educação Especial, que o considera um bom livro para « perder quinze noites de
sono…». Nas noites alentejanas, o futuro professor de Educação Física Carlos
Mangas imitava o seu herói, o Major
Alvega, a ser «implacável na luta com inimigos no ar», dedicando-se a
abater moscas «como ele fazia aos aviões inimigos.» Aquiles Loureiro, agora um circunspecto
professor de Geografia, surpreende-nos com um impropério («Com mil milhões de
macacos!”) quando se refere, também, à banda desenhada (esta franco-belga).
E quem havia de dizer que Gracinda
Castanheira escolheria A mulher na sala e
na cozinha, «um manual de conselhos para ser uma boa dona de casa,
cozinheira e administradora dos proventos domésticos»? Claro que a nossa
progressista professora de História só fala do livro para lhe chamar «fóssil» (embora,
verdade seja dita, lhe tenha chamado a atenção a receita do bolo de Torres
Novas da página 223). De fósseis tratará talvez o livro escolhido pelo
professor de Físico-Química Emanuel Ferreira, Com Darwin na América do sul, que com ele viajou e «com ele começou
o bichinho da ciência». E não se estranha que a professora de Matemática Isabel
Leite tenha escolhido um protagonista, Christopher Boone, que adora Matemática
e «resoluções elegantes de conhecidos problemas matemáticos» (O estranho caso do cão morto).
O livro favorito do professor de
Português Custódio Braga, aquele que, curiosa afirmação, o ejetou «para as
alturas da grande literatura universal» por via da sua «lascívia adolescente»,
é Madame Bovary. Também adolescente,
Orlanda Gonçalves foi sensível a uma descrição de um episódio amoroso de Papillon, revelando a sua propensão
para… a Química. Mais austera, a sua colega de grupo Fátima Gama destaca Os bebés de Auschwitz, enquanto Graça
Peixoto, respeitável professora de Português, foi “intimidada” no colégio por
ler Os Miseráveis, título por si só
suspeito no Portugal de antes de Abril de 1974.
Voltemos à professora de Matemática
Isabel Leite, que afirma «Já li muitos livros, alguns bons, outros assim-assim
e outros que, definitivamente, não foram escritos para mim.»
E agora queremos nós bisbilhotar: Que
livros foram mesmo, mesmo, mesmo
escritos para ti?
Isabel Maria Correia
(Equipa Biblioteca Escolar ESVV)
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